Não devia falar de ti. Não devia porque apenas são mais razões para, ao fim ao cabo, dar-te atenção, e teres motivos para te vangloriares (mais uma vez), e dizeres "se eu não fosse importante, não falavam de mim". Sim, de fato podemos concluir que és importante. Tens o perfil ideal da personagem principal de um livro. Um qualquer thriller psicológico com uma emaranhada história, fazendo o leitor odiar-te pelo simples fato de existires, mesmo que apenas não passes de uma obra de ficção. Mas neste caso, és real, e bem podes ser odiado por isso. Mas eu não te odeio, porque agora consigo compreender-te, e isso muda tudo. Muda o choque e o desagrado perante as tuas atitudes más, para olhar para algo e pensar "
isto é mesmo dele". Consigo tolerar, mas não consigo aceitar. Não sei se será essa a palavra certa, mas é como se as nossas cabeças funcionassem (e funcionam) exatamente em sentidos opostos.
Eu preocupo-me.
Tu estás-te a borrifar.
Eu penso.
Tu fazes sem pensar.
Eu não quero perder aqueles que são importantes.
Tu não te importas de perder toda a gente. Mas isso não é o pior de tudo.Fingiste ser alguém que não eras para chegares até mim. E isso não consigo perdoar. Não consigo deixar de me sentir enganada por me teres enrolado na tua teia de histórias distorcidas, falsos valores morais, promessas vãs e mentiras que ias contando, aqui e ali, aparentemente inócuas. A tua incoerência é proporcional à tua frieza e desapego. Consegues fazer planos futuros com alguém hoje, e amanhã nem te lembrares que essa pessoa existe. Que tipo de pessoa és tu? Apesar de estares completamente alheio, estás no mundo real e até tens pessoas à tua volta que se importam contigo. Gostei da pessoa que inicialmente me deste a conhecer. Só é pena não seres essa pessoa. Desiludi-me e senti-me enganada como nunca, quando me apercebi que afinal aquela pessoa da qual eu gostava tanto, que parecia importar-se comigo, não passava de uma farsa. O teu verdadeiro "eu" não gosta verdadeiramente de ninguém. Tens a tua ideia pré concebida de que ninguém te faz falta, apenas tu fazes falta a ti mesmo. Será mesmo assim? Até onde és capaz de levar esse orgulho extremista e admitir, uma vez que seja, que alguém te faz falta? "Vais-te dar mal assim" "Até agora nunca me dei mal"
Até ao dia. Compreender-te foi como tentar resolver um cubo mágico. Sabemos que é possível de resolver mas andamos ali às voltas a tentar, quase sempre sem sucesso, e à beira de um ataque de nervos.
Esse teu mundo que é um poço de contradições e de ideias que de fixas não têm nada. As palavras que atiras boca fora desprovidas de qualquer sentimento e de credibilidade. Poderia pintar-te num retrato que se assemelharia ao de um monstro repugnante. Mas isso não se justifica. Podia até acusar-te do mais terrível dos crimes, que para ti é indiferente. És à prova de tudo, e podes crer que te invejo por isso. Mas como tu disseste e bem, somos muito diferentes, e sim, talvez me preocupe demasiado, mas agora, não estou disposta a dar mais nenhum passo, batendo numa pedra que nunca vai ceder. Querer realmente mudar, é o primeiro passo para haver mudanças. E tu não queres, pois o que é certo é que mudar "dá muito trabalho", e tu nunca o irias fazer, pois "fizeram-me assim, não tenho culpa."
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