Acordei e tive medo do tempo. Aliás, tive medo de tudo o que viria pela frente. Tive medo que o tempo te fizesse ver que a tua vida era melhor longe de mim, ou que havia por aí outras pessoas melhores que eu, ou que tivesses a certeza de que tinhas feito a melhor escolha. Acordei com a garganta seca, os olhos quase colados com restos de maquilhagem mal tirada, à mistura com água salgada que verti até adormecer. Agora, sabia que iria sentir o sufoco durante todo o dia, sabia que tinha desesperadamente de fazer algo. Sentia-me como uma criança que perde os pais num parque de diversões. O tique-taque do relógio não jogava a meu favor, e, neste momento, o tempo era o meu pior inimigo. Num impulso quis dizer tudo o que me ia nesse sítio a que chamam alma. Eu acho que já não a tenho. As palavras estão em cada poro do meu corpo, entaladas, à espera de um sopro de impulsividade. Mas tenho de me manter consciente, agarrada a uma réstia de sanidade. Hoje perguntaram-me o que significa a minha