Eu escrevia-lhe palavras bonitas porque era tudo o que eu tinha no coração. Só o via a ele, mesmo que nele a minha imagem se passeasse ao lado de muitas outras. Ele dizia que nunca ninguém iria ocupar o meu lugar, enquanto segurava uma mão que não era a minha, e eu realmente não deixava ninguém sequer aproximar-se do seu lugar. Fiz do meu corpo um templo com o seu nome, e arranquei a alma para lhe dar. Tudo o que me restou foi vazio. Restaram as minhas cinzas a voar por cima do mar que ele olhava todos os dias. Encarcerei o meu corpo na corrente que balançava ao sabor do vento. Quis fugir mas todos os lugares me levavam até ele, não conhecia outra morada, não ousava pronunciar outro nome, estava impregnado em mim. Ele dizia que me amava mas que não podíamos ficar juntos. Usava a mesma saliva que usava para a beijar. "Sou um cabrão e menti-te durante meses". "Amo-te", era tudo o que eu ouvia.
Estou de volta por aqui. Nunca abandonei totalmente este meu cantinho, mas com o passar dos anos veio o desleixo. As redes sociais e o meu trabalho nelas, fizeram com que me dissociasse das palavras e até dos livros. A realidade é que me tenho sentido vazia. Aquele sentimento de que nada faz sentido, o desprazer pelo trabalho, pelas tarefas do dia-a-dia, hobbies, pela vida, até. Apesar de pouco ou nada falar disto, sempre tive tendência para a depressão, a juntar à ansiedade que foi agravando nos últimos anos. O silêncio e o isolamento sempre foram a forma que usei para "lidar" com a situação. Nunca pedi ajuda, sempre achei que era tudo sinal de fraqueza e com ela vinha a vergonha de falar com quem quer que fosse sobre como me sentia. Até porque a dificuldade em explicar por palavras é sempre gigante. Se por acaso me perguntarem porque estou triste, apenas consigo responder "não sei, é por tudo". Sinto que não me consigo fazer entender, e isso deixa-me ainda pior. A...

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