Acordei e tive medo do tempo. Aliás, tive medo de tudo o que viria pela frente. Tive medo que o tempo te fizesse ver que a tua vida era melhor longe de mim, ou que havia por aí outras pessoas melhores que eu, ou que tivesses a certeza de que tinhas feito a melhor escolha. Acordei com a garganta seca, os olhos quase colados com restos de maquilhagem mal tirada, à mistura com água salgada que verti até adormecer. Agora, sabia que iria sentir o sufoco durante todo o dia, sabia que tinha desesperadamente de fazer algo. Sentia-me como uma criança que perde os pais num parque de diversões. O tique-taque do relógio não jogava a meu favor, e, neste momento, o tempo era o meu pior inimigo. Num impulso quis dizer tudo o que me ia nesse sítio a que chamam alma. Eu acho que já não a tenho. As palavras estão em cada poro do meu corpo, entaladas, à espera de um sopro de impulsividade. Mas tenho de me manter consciente, agarrada a uma réstia de sanidade. Hoje perguntaram-me o que significa a minha tatuagem. "Algo que já não tenho há muito tempo", respondi.
Estou de volta por aqui. Nunca abandonei totalmente este meu cantinho, mas com o passar dos anos veio o desleixo. As redes sociais e o meu trabalho nelas, fizeram com que me dissociasse das palavras e até dos livros. A realidade é que me tenho sentido vazia. Aquele sentimento de que nada faz sentido, o desprazer pelo trabalho, pelas tarefas do dia-a-dia, hobbies, pela vida, até. Apesar de pouco ou nada falar disto, sempre tive tendência para a depressão, a juntar à ansiedade que foi agravando nos últimos anos. O silêncio e o isolamento sempre foram a forma que usei para "lidar" com a situação. Nunca pedi ajuda, sempre achei que era tudo sinal de fraqueza e com ela vinha a vergonha de falar com quem quer que fosse sobre como me sentia. Até porque a dificuldade em explicar por palavras é sempre gigante. Se por acaso me perguntarem porque estou triste, apenas consigo responder "não sei, é por tudo". Sinto que não me consigo fazer entender, e isso deixa-me ainda pior. A...

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