A fatídica página em branco. Aquela que eu tanto temia, arrumada a um canto por tempo incerto. Aterrorizava-me todos os dias da minha vida, os mesmos dias em que ao acordar lá estava ela, sempre no mesmo canto: inerte, incólume, e branca. Depressa desviava o olhar, numa mediocre tentativa de a ignorar e fingir que não existia. Afinal é isso que todos fazemos diariamente: fechar os olhos a uma realidade que, cobardemente, queremos ignorar. E ela por lá ia permanecendo, dia após dia, alheia à corrida incessante do relógio que urge impiedosamente. A página em branco que tu tanto teimas em guardar, naquela última gaveta, debaixo de inúmeras folhas de rascunho antigas e obsoletas que "um dia podem fazer falta". E a página em branco por lá vai ficando, na gaveta, no canto, na almofada que já desgastada carrega todo o peso de uma vida que não poupou o conformismo. A página, envolta em sonhos, desejos, futuros idealizados, porém, imaculada, desprovida de qualquer tentativa de uso, é a passadeira que corre e gira por baixo dos teus pés. Dá voltas e pisas sempre o mesmo sítio. A roda gigante que te faz ver o topo, mas que não te leva a parte alguma. A droga que te alucina e que te transpõe para outra dimensão. Mas tu continuas a ser tu, continuas a ser matéria em perigo eminente. Continuas a fazer parte de um conjunto de nadas, que juntos compõem a tua sufocante página em branco.
A mim não me interessa ser famosa, não me interessa ser reconhecida, nem saber que sabem o meu nome. Não é isso que me alimenta o ego, não tenho necessidade de ser adorada, nem idolatrada, ou whatever. Interessa que aqueles que eu gosto, gostem de mim e confiem em mim, pois isso sim, me trás felicidade. Julgar sem conhecer é fácil e está à mão de todos, mas se não conheces e falas, concerteza não tens o privilégio de conhecer. Os meus amigos conto-os pelos dedos, e esses, guardo-os a todos no coração. Para o resto do mundo sorrio, mesmo que de volta receba um pontapé. E é isso.
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