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Um desses dias


Abriu um olho, a medo - como quem espreita por cima da ombreira da porta - acabara de acordar, estranhamente cedo, e ainda mais estranho, não queria voltar a fechar os olhos. Era um daqueles dias que não tinha sabor a "mais um igual a tantos outros". Queria fazê-lo contar, senti-lo, aproveitar cada segundo que passava no relógio, sem chegar ao fim e sentir que nada de novo havia sido acrescentado. Não queria sentir a banalidade que os seus dias costumavam arrastar, não queria carregar a nuvem cinzenta que impedia que o ar nos seus pulmões fluísse normalmente. Queria correr, pular, soltar a voz, voar, sentir o ar frio a queimar o rosto num passeio ao final do dia no campo com os mosquitos a picarem-lhe a pele nua. Sabia que havia todo um mundo por desbravar, e isso era mais que motivo para que a monotonia se afastasse.

Abriu os dois olhos e saltou da cama. Vestiu-se de alegria, calçou-se de entusiasmo.


"Porque o mundo pertence a quem se atreve"

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