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Sometimes, the worst place you can be is in your own head

Estou de volta por aqui. Nunca abandonei totalmente este meu cantinho, mas com o passar dos anos veio o desleixo. As redes sociais e o meu trabalho nelas, fizeram com que me dissociasse das palavras e até dos livros. A realidade é que me tenho sentido vazia. Aquele sentimento de que nada faz sentido, o desprazer pelo trabalho, pelas tarefas do dia-a-dia, hobbies, pela vida, até. Apesar de pouco ou nada falar disto, sempre tive tendência para a depressão, a juntar à ansiedade que foi agravando nos últimos anos. O silêncio e o isolamento sempre foram a forma que usei para "lidar" com a situação. Nunca pedi ajuda, sempre achei que era tudo sinal de fraqueza e com ela vinha a vergonha de falar com quem quer que fosse sobre como me sentia. Até porque a dificuldade em explicar por palavras é sempre gigante. Se por acaso me perguntarem porque estou triste, apenas consigo responder "não sei, é por tudo". Sinto que não me consigo fazer entender, e isso deixa-me ainda pior. A
Mensagens recentes

Como eu achei que ia ser

A criança que um dia fui imaginou tanto este dia. Imaginei-o e sonhei-o, vezes sem conta. Com amor, com esperança, com fé. Com todo o meu coração.  Não imaginei onde, como, com quem, o quê, quando. Não fazia a mínima ideia de quem eu ia ser passados 10, 15, 20, 25 anos. Sabia apenas uma coisa. Que me queria honrar. Queria que a Marisa que estava anos à frente protegesse a criança que um dia foi. Hoje não é um dia especial. É um dia "igual a tantos outros", na minha realidade. Mas é um dia em que, da memória retiro a cápsula do tempo que a criança de 5 anos enterrou. Ironia da vida estar exatamente no mesmo sítio. Tive de voltar. Porque foi necessário. E porque quis voltar. Hoje respondo à questão que me coloquei quando tinha 5 anos. Ainda consigo ouvir as palavras a ecoarem na mente. Eu não perguntava onde iria estar com 28 anos. Perguntava onde iria estar com 18. Os quase 30 pareciam-me uma utopia, quase como se fosse outra vida. E hoje eu respondo-te "No mesm

Não somos vítimas, somos cúmplices

Estamos todos doentes e a medicamo-nos com a própria destruição. Estamos doentes e não queremos ver que aquilo que mais nos mata, é o que pensamos ser o que nos mantém vivos. Vivemos doentes e amarrados a uma falsa saúde que nos remete a uma constante epifania. Não nos apercebemos do oásis ao qual estamos confinados, da rotina que nos cerceou. Estamos doentes de mudança, doentes de um sistema que nos manteve sempre cercados por muros altos, impedindo-nos ver para além deles. Nunca ousamos questionar. Aceitamos. Vivêmo-lo. Não somos vítimas, somos cúmplices. 

Um desses dias

Abriu um olho, a medo - como quem espreita por cima da ombreira da porta - acabara de acordar, estranhamente cedo, e ainda mais estranho, não queria voltar a fechar os olhos. Era um daqueles dias que não tinha sabor a "mais um igual a tantos outros". Queria fazê-lo contar, senti-lo, aproveitar cada segundo que passava no relógio, sem chegar ao fim e sentir que nada de novo havia sido acrescentado. Não queria sentir a banalidade que os seus dias costumavam arrastar, não queria carregar a nuvem cinzenta que impedia que o ar nos seus pulmões fluísse normalmente. Queria correr, pular, soltar a voz, voar, sentir o ar frio a queimar o rosto num passeio ao final do dia no campo com os mosquitos a picarem-lhe a pele nua. Sabia que havia todo um mundo por desbravar, e isso era mais que motivo para que a monotonia se afastasse. Abriu os dois olhos e saltou da cama. Vestiu-se de alegria, calçou-se de entusiasmo. "Porque o mundo pertence a quem se atreve"

Sonhos de gente grande

Era um dia de verão, no ar passava um avião, um de tantos que todos os dias sobrevoavam o céu, o mesmo céu que ela não se fartava de olhar. Quando lhe perguntavam qual a sua cor favorita, dizia, sem pestanejar, "azul turquesa". Era feliz quando nas suas pequeninas mãos tinha a caneta, exatamente com a cor do céu. Não se coibia de a utilizar em todos os seus desenhos, pintando o céu, e um sol, amarelo e radiante. "Lá em cima vão os teus avós" - Diziam-lhe, enquanto concentrava toda a sua atenção naquele avião, que parecia tão pequeno visto de longe, imaginando como seria estar lá dentro, a sobrevoar a terra que ela pisava. Entrava no aeroporto. Era capaz de ficar horas a olhar para a avioneta que, fantasticamente, se encontrava no tecto, suspensa por fios que lhe pareciam tão frágeis. Tinha medo de se colocar debaixo dela, mas era emocionante vê-la, e admirá-la. Subia ao rooftop do aeroporto. Colocavam-na em cima do muro para conseguir ver melhor. Sentia-se ain

Avó Maria

Naquele cantinho de "coisas que nunca vou esquecer", estão as palavras da minha bisavó Maria, sempre que a família vinha de férias para Portugal, “esta pode ser a última vez que vos vejo…”. Houve uma vez em que isso se cumpriu. Maria de Sousa Fernandes, era o seu nome. Este nome, expoentemente repetido, foi por mim escrito infinitas vezes, na tentativa de que ela também o conseguisse. Com os meus 6 anos, ansiava aprender a ler e escrever, primeiro, para poder devorar todos os livros de histórias que conseguisse, e segundo, para ensinar a avó Maria a escrever, pelo menos, o seu nome. Se eu aprendia, ela também ia aprender, dizia eu. Estávamos em patamares iguais, só que desfasadas no tempo. A avó Maria tinha sempre imensas histórias para me contar. Hoje vejo o quanto nos enriquecemos uma à outra. Ela com a sabedoria dos seus 80 e poucos anos, eu com o frescor e ingenuidade de quem tem toda uma vida pela frente. Era capaz de passar horas a pentear o seu cabelo branco, e a

"They say she couldn't, so she did"

Há muito tempo atrás - e aqui o tempo é subjetivo, mas entenda-se o tempo da minha existência - tinha os meus 9 ou 10 anos e andava num campo de férias. Eram umas quaisquer férias escolares e eu tinha decidido que queria passá-las em atividades com outras crianças. Lembro-me que na altura foi um desafio. Um começo. E eu sempre gostei de começos, aliás. Atirar-me de cabeça para um novo desafio, sozinha, sem conhecer nada nem ninguém. Simplesmente abraçar um desafio novo, e começar do zero. E sim, aqui estou " apenas a falar de um campo de féria s", mas para uma criança introvertida como eu era, foi um imenso desafio. Foi mais ou menos por volta dessa altura que senti - não pela primeira vez, mas de uma forma mais crua - a brutal chicotada que é o bullying. Esse parasita, silencioso, invisível, que se hospeda num rosto angelical e inocente. Comecei a senti-lo sem o saber. Não tinha consciência da ferida aberta. Era como cortar o dedo em papel, e só reparar algum tempo de